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Uma Temporada no Escuro: de Karl Ove Knausgard
Uma Temporada no Escuro: de Karl Ove Knausgard

A COMPLICADA INICIAÇÃO DE KARL OVE KNAUSGARD

 

UMA TEMPORADA NO ESCURO (Companhia das Letras, 496 páginas, tradução de Guilherme da Silva Braga) é o quarto volume – de um  total de seis – da série autobiográfica MINHA LUTA, do consagrado autor norueguês Karl Ove Knausgard, que hoje faz parte do star system literário mundial e esteve na última Flip, em Paraty.

 

Por ter rompido as amarras da ficção, pela criatividade, pelo alto grau de confessionalismo e pelo impacto de tamanho amazônico que já causou pelo mundo, com prêmios importantes e edições em vários países, Knausgard tem sido chamado de antiproust ou Marcel Proust Nórdico.  Cada leitor poderá decidir como quer qualificar o escritor que nasceu em Oslo em 1968, estudou literatura na Universidade de Bergen e hoje vive em Malmo, na Suécia, com a mulher e os filhos.

 

UMA TEMPORADA NO ESCURO trata da vida de Knausgard quando ele, aos 18 anos, tinha acabado de se formar e foi para uma vila de pescadores no Norte da Noruega dar aulas a adolescentes pouco mais jovens que ele.  Aquele ano fora de casa era desculpa para juntar um dinheirinho, viajar e começar a se dedicar à escrita.

 

Quando o inverno e aquela escuridão do Ártico chegam, o escritor principiante, pressionado pelo mundo exterior, atrapalha-se com sua perda de virgindade e enfrenta as primeiras agruras de quem pretende produzir uma obra extraordinária.  O fracasso da virilidade e as dificuldades sociais levam Knausgard ao consumo excessivo de álcool, e aí a escuridão exterior e interior toma conta.

 

O volume tem sido considerado o mais rápido e engraçado dos seis da famosa série autobiográfica de Knausgard e tem o ritmo da palavra escrita no diário do jovem Karl de 18 anos: rock n’ roll.  Jeffrey Eugenides, autor de As Virgens suicidas, escreveu no New York Times que o espírito do livro é o grito de um garoto com uma coleção incrível de discos que sonha em se tornar escritor, redigido pelo grande escritor que ele enfim se tornou.

 

O alto grau de sinceridade do autor e o fato de escrever de forma totalmente aberta e direta sobre si, família, amigos e temas que outros escritores evitam, como embriaguez do pai, bullying, depressão, sentimento de fracasso, frustração e fuga da realidade que o afetaram diretamente têm causado polêmica e problemas para Karl com familiares, leitores, críticos e mídia.

 

Mas por outro lado, Knausgard hoje, com suas palavras e silêncios, conquistou seu espaço e revelou, como disse, que ele é simples, mas sua literatura, não.  “Tentei escrever de forma totalmente aberta: não estou mostrando nada, simplesmente é o que é, um estado mental”, disse o autor em entrevista, sintetizando seu fazer literário que o coloca, ao lado da italiana Elena Ferrante e do japonês Harukio Murakami, entre alguns outros, no primeiro time da literatura internacional.

 

Fonte:  Jornal do Comércio/Jaime Cimenti (jcimenti@terra.com.br) em 24 de julho de 2016.