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Novo Ensino Médio
Novo Ensino Médio

A EXPERIÊNCIA DO NOVO ENSINO MÉDIO

Na semana em que o governo federal anunciou a interrupção da implementação do currículo que havia sido tornado obrigatório em 2022, ZH foi ouvir os estudantes para saber o que pensam e o que está em jogo na formação desta e das próximas gerações

 

Com uma parte flexível, na qual há a possibilidade de escolher parcialmente o que quer estudar, o Novo Ensino Médio pode parecer, à primeira vista, o sonho de qualquer aluno.  Na prática, contudo, não é bem assim – a reforma gerou protestos e ocupações de escolas por estudantes desde a sua criação, por meio de uma medida provisória do governo federal, em 2016.  As manifestações voltaram a ganhar força nos últimos meses, o que levou à suspensão da implementação do novo modelo, na última quarta-feira, enquanto durar uma consulta pública sobre o assunto, promovida pelo Ministério da Educação (MEC).

 

O reforço nas críticas à reforma ocorre em paralelo ao início, na maioria dos Estados, da oferta das trilhas de aprofundamento, ou Itinerários Formativos (IF), como são chamados os componentes eletivos do currículo.  Tornado obrigatório nas escolas de todo o Brasil desde o ano passado, o formato do Novo Ensino Médio varia em cada rede, uma vez que a legislação federal dá apenas diretrizes, como a carga horária máxima de 1,8 mil horas de disciplinas da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que são as matérias que já existiam antes da reforma.

 

Apesar da suspensão da implementação, como o ano letivo já iniciou, as escolas seguirão com o currículo já previsto.  Nos colégios estaduais do Rio Grande do Sul, é no 2º ano do Ensino Médio que os estudantes escolhem a área em que querem se aprofundar.  Por isso, as primeiras turmas a receberem o novo currículo, em 2022, começaram agora, em 2023, a parte flexível.

 

Para mapear como estava a implementação, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) realizou uma pesquisa, no início deste ano, com 5,5 mil educadores e 31,5 mil alunos da rede. Ambas as categorias de respondentes elencaram como problemas a redução da Formação Geral Básica (FGB) – composta pelas disciplinas preexistentes e comuns a todos – e a falta de formação dos professores para ministrar as aulas dos Itinerários Formativos.

 

Entre os estudantes, ainda há críticas quanto às aulas das trilhas de aprendizagem que fazem parte dos itinerários, que seriam pouco estruturadas, à falta de informação sobre o modelo, à dificuldade de assumir o protagonismo nesse formato, à falta de escuta dos alunos no processo de implantação do Novo Ensino Médio, à preparação para o vestibular e para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), à dificuldade com horários de transporte e à falta de estrutura das escolas para ofertar a nova metodologia.

 

Já os docentes citaram também questões como o fato de os componentes curriculares novos serem diversos e diferentes da formação inicial deles, o excesso de trilhas de aprendizagem, a existência de disciplinas eletivas no contraturno dos alunos, a falta de recursos humanos nas escolas para dar conta, problemas ligados à estrutura física e tecnológica das instituições, a falta de orientações e diretrizes e a necessidade de mais tempo para o planejamento das aulas.

 

Tendo essas respostas em mãos, a Seduc trabalha em uma revisão do formato. Como a suspensão da implementação pelo MEC tem prazo para acabar – 60 dias, contados a partir do término da consulta pública, que começou no início de março e tem prazo para manifestações de 90 dias, com possibilidade de prorrogação – a revisão está mantida.

 

Pode ser modificado, por exemplo, o número de trilhas de aprofundamento, bem como a carga horária delas.  A pasta também aventa a possibilidade de que o aluno escolha o turno em que vai cursar as eletivas e que o currículo seja redesenhado, de forma a deixar as turmas de 3º ano com mais períodos de Formação Geral Básica, a fim de prepará-los para o Enem.  Hoje, essa é a série com a maior carga horária de trilhas de aprofundamento. A Seduc propõe, ainda, oferecer trilhas e itinerários híbridos e multimodais e investir na alfabetização e no letramento digital dos alunos.

— Estamos discutindo agora, a partir da enquete que nós fizemos, o que precisa ser melhorado. Uma coisa que vamos fazer é aumentar as horas da Formação Geral Básica.  Eu concordo que talvez seja positivo aumentar, mas não sou quem decide isso sozinha.  Isso está sendo discutido na Secretaria com as regionais, com os diretores, com os professores – relatou a secretária estadual de Educação, Raquel Teixeira, em entrevista a ZH.

 

No primeiro semestre de 2022, o Datafolha realizou uma pesquisa de opinião sobre o Novo Ensino Médio com 7,8 mil estudantes de todo o Brasil. Entre os ouvidos no Rio Grande do Sul, 72% disseram concordar que os alunos deveriam poder escolher uma área para se aprofundarem nos estudos, de acordo com suas preferências.  O momento da escolha, para 42% dos entrevistados, deveria ser o 3º ano.  Em segundo lugar está o 2º ano, com 30%.  Na época do levantamento, apenas 28% dos respondentes disseram que estavam bem informados sobre a reforma.

 

O PROCESSO DE SUSPENSÃO

 

Diante das críticas e dos pedidos de revogação do modelo de ensino, o MEC realiza, atualmente, uma consulta pública sobre o assunto. Iniciada no começo de março, a pesquisa dá prazo de 90 dias para as manifestações, com possibilidade de prorrogação.  A previsão é de realizar audiências públicas, oficinas de trabalho, seminários e pesquisas nacionais com estudantes, professores e gestores escolares sobre a experiência de implementação do Novo Ensino Médio nos 26 Estados e Distrito Federal.

 

Na quarta-feira, a pasta publicou uma portaria que suspende o cronograma nacional de implementação do Novo Ensino Médio.  A medida oficializa a interrupção dos prazos por 60 dias a partir do término da consulta pública criada pelo governo federal para avaliação e reestruturação da reforma.  Na prática, não deve afetar a rotina das escolas, mas pode fazer com que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que adotaria um formato adaptado à reforma em 2024, se mantenha nos moldes tradicionais.

— Reconhecemos que não houve, à época (da reforma), um diálogo, uma construção que envolvesse os atores e protagonistas, que são os alunos e professores, que estão lá no dia a dia.  Então, é preciso fazer correções, e nada melhor do que o diálogo, o debate, para fazer as correções necessárias, que são urgentes, mas precisam ser feitas com responsabilidade, ouvindo a todos – observou no final de março o ministro da Educação, Camilo Santana, em entrevista coletiva.

 

O ministro tem se posicionado a favor de revisar o modelo instituído, mas contrário à revogação.  No entanto, assegura que todas as decisões serão tomadas com base no resultado da consulta pública.

— Eu, pessoalmente, tenho questionamentos sobre alguns pontos dessa reforma, mas precisamos avançar, corrigir, melhorar.  Mas vivemos em uma democracia, em que devemos ouvir todos os atores, para tomarmos decisões consensuadas e responsáveis – pontuou Santana.

 

E quanto aos alunos?

 

Buscando um panorama mais amplo sobre a realidade do Novo Ensino Médio na rede pública, a reportagem de ZH visitou a escola estadual com o maior número de alunos nesta etapa atualmente: o Colégio Inácio Montanha.  Localizada no bairro Santana, em Porto Alegre, a instituição de ensino possui 1,4 mil estudantes matriculados.  Eles podem optar por duas das 28 trilhas de aprendizagem existentes na rede: Expressão Corporal, Saúde e Bem-Estar, vinculada à área de Linguagens e suas Tecnologias; e Educação Financeira e Desenvolvimento Sustentável, vinculada a Matemática e suas Tecnologias.

 

Dos quatro alunos de 2º ano entrevistados, três estão cursando Expressão Corporal, Saúde e Bem-Estar.  As estudantes se frustraram ao descobrir que, apesar de a trilha ser ligada à área de Linguagens e suas Tecnologias, não teriam aulas extras de redação, por exemplo.  Elas dizem que só escreveram uma redação desde o ano passado.

— Pensei que a gente ia ter mais português, mais redação, mais alguma coisa, e não essas matérias de Expressão Corporal, Linguagem Corporal.  Se pelo menos eles colocassem dois períodos dessas, em vez de seis, e nos outros tivéssemos mais matemática, mais português, que é o que cai no Enem – sugere Patricia Correa Oring, 17 anos.

 

A adolescente conta que os pais pediram que ela fizesse o Enem em 2023 para testar seu desempenho, mas que, com a previsão de que a prova mudasse em 2024, ela não sabia como se preparar para ingressar na graduação em Direito que deseja.

— Isso gera ansiedade, porque aí vai chegar no ano que vem e "ah, gente, surpresa, mudou o Enem. Vai ser de outro jeito".  A gente vai ficar como?  Na verdade, eles estão usando a gente como cobaia.  Essa é a verdade, porque eles não chegaram a perguntar o que a gente acha.  Eles apenas deram as matérias – lamenta a jovem.

 

A colega Brendha Luísa Lisboa Barcellos, 16 anos, concorda. Seu plano é fazer o Enem, no ano que vem, para tentar uma vaga em Medicina Veterinária, e sente que os seis períodos semanais de Linguagem e Expressão Corporal e os dois de Biomecânica não a ajudarão a chegar lá.

— Não estou diminuindo Expressão Corporal, porque, como o professor nos disse, é bom para conseguir ajudar, no caso de algum familiar nosso estar passando por algum problema um dia.  Mas isso acaba anulando matérias importantes – avalia a adolescente.

 

Os estudantes, que já se sentem em desvantagem por terem passado por quase dois anos de aulas remotas, relatam, ainda, que muitos professores não sabem o que lecionar nas disciplinas.

— Nem todos os professores sabem dar Projeto de Vida, por exemplo. No ano passado, o professor não sabia, então ele conversava, tentava fazer algo, mas não existe uma formação para dar Projeto de Vida – analisa Rodrigo Vasconcellos dos Santos, 17 anos.

 

Lorrana Prates Macedo, 17 anos, considera que o foco do Novo Ensino Médio deveria ser nas disciplinas tradicionais.

— Projeto de Vida e Iniciação Científica eu acho que não vão cair no Enem, porque eles misturam um pouquinho de cada coisa melas. No lugar disso, era pra ser Português, Matemática, Geografia, que é o que a gente precisa e realmente vai usar – defende a estudante, que pretende cursar Medicina e diz que, para isso, precisa passar no exame.

 

No entendimento de Rodrigo, que cursa a trilha de Educação Financeira e Desenvolvimento Sustentável e quer seguir carreira no Exército – que também envolve estudar para provas – o Novo Ensino Médio não está preparando nem para o Enem e o vestibular, nem para o mundo do trabalho.

— Para eles, a gente é só um a estatística do que funcionou ou não funcionou, mas a gente não está nem se preparando para o Enem, nem aprendendo uma profissão.  O que a matéria mostra não é nem 5% do que existe realmente sobre aquilo. Então, tu não consegues encontrar algo que goste na matéria e também não adquire um conhecimento real, já que aprende só uma parte muito pequena de algo que precisaria de uma faculdade inteira para entender – destaca o jovem.

 

Além de uma carga horária menor para disciplinas que consideram mais úteis, os alunos acham confuso ter matérias semelhantes com professores diferentes.

— É como se um professor explicasse soma e o outro subtração.  Fica realmente muito perdido e deixa a gente mais perdido ainda – comenta Patricia.

 

Brendha ressalta também o sentimento de que os estudantes não foram consultados ou esclarecidos sobre o Novo Ensino Médio:

— Levaram a gente para votar se queríamos Saúde e Bem-Estar ou Educação Financeira e a gente apenas votou.  Não nos explicaram o que era o Novo Ensino Médio, não perguntaram se a gente aceitava.

 

A secretária Raquel Teixeira relata alguns percalços durante a implantação da reforma: a pandemia, que ocorreu no período em que os projetos pilotos em 264 escolas estavam acontecendo, e a falta de um acompanhamento técnico e financeiro por parte do MEC necessário nesse processo.  Mesmo assim, julga que o primeiro ano de implantação foi tranquilo, e considera a preocupação dos adolescentes e dos próprios professores com o Enem, normal, diante da falta de definições, até agora, do governo federal.

— É uma insegurança natural, porque, enquanto o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) não disser que o Enem vai ser de tal forma, eles vão ficar com a ideia do Enem antigo.  O Enem será de acordo com o Novo Ensino Médio: vai ter uma parte da Formação Geral Básica, igual para todos, e uma individualizada, com a nova arquitetura flexibilizada – reitera a secretária.

 

IMPLEMENTAÇÃO AMADURECIDA

 

Localizado no bairro Petrópolis, o Colégio Santa Inês não esperou o prazo estourar, e implementou o Novo Ensino Médio um ano antes.  Agora, a primeira turma da escola privada que adotou o modelo, em 2021, está cursando o 3º ano, e já tem algumas considerações para fazer.

— O 1º ano foi o que eu senti mais a diferença. Em grande parte da carga horária a gente faz trabalhos, atividades, projetos.  Em Investigação Científica, por exemplo, a gente trabalha em grupos de quatro pessoas desde o início do ano, elabora, desenvolve, até chegar à apresentação – relata Lucas Gonçalves de Barba, 17 anos, do 3º ano.

 

Também estudante do 3º ano, Camila Espíndola, 17 anos, conta que a transição para o novo modelo gerou medo nos colegas, quando se preparavam para ingressar no 1º ano nesse formato.  Com isso, houve quem saísse do colégio, mas ela resolveu ficar.

— No início foi complicado, porque coincidiu com o início da pandemia. Então, tínhamos aula online de disciplinas que a gente não conhecia. Mas as coisas foram se ajeitando e agora, no 3º ano, está superbom, tudo se alinhando aos nossos projetos de vida, de faculdade, de provas que a gente tem para o futuro – analisa a jovem.

 

Em vez de escolherem um itinerário formativo, os alunos do Santa Inês têm trilhas obrigatórias em todas as áreas e podem escolher disciplinas eletivas livremente, em diferentes áreas de conhecimento, ao longo do Ensino Médio.  São três eletivas no 1º ano, três no 2º e uma no 3º, quando os adolescentes precisam de mais tempo para participar do Programa Pré-Universitário, que trabalha questões de provas de vestibulares e do Enem.

 

Os projetos desenvolvidos são interdisciplinares.  Lucas sita o trabalho que fez no 1º ano:

— Era bem livre, a gente que escolhia o assunto. O meu grupo fez sobre saneamento básico.  Pegamos a capital Porto Velho (RO), que tinha o pior índice de saneamento, e comparamos com Porto Alegre, que é a nossa capital.  A nossa orientadora era um a professora de Química, mas a gente estudou assuntos de várias disciplinas.  No novo currículo, a gente tem mais essa questão de colocar na prática o que a gente aprende.

 

Lucas considera positiva a possibilidade de cursar eletivas sobre diferentes assuntos, sem se prender a uma área só, o que lhe ajudou a ter mais clareza sobre o caminho profissional que quer seguir.

— A gente tá no Ensino Médio, então, ainda está pensando no que quer desenvolver lá na frente.  Por isso, a gente meio que está indeciso sobre as coisas, e diferentes opções servem pra gente trabalhar isso – comenta o jovem, que está em dúvida entre cursar Medicina ou Engenharia Mecânica.

 

Para Camila Espíndola, a disciplina eletiva de Atualidades que trabalha elementos com o oratória e recursos de argumentação, foi determinante para definir que quer fazer a graduação em Direito:

— Fiz outras disciplinas, como Energias Renováveis e Práticas Linguísticas, e foi bom para ver que outras opções que eu tinha realmente não eram o que eu queria.

 

Já a colega Camila Fraga Gonçalves, 17 anos, foi atraída mais pelas disciplinas ligadas a artes.

— Acho que essa ideia de o Novo Ensino Médio ter itinerários abrange muitas partes do que a gente não consegue ter nas próprias matérias, como debates, discussões sobre tecnologia, fazer maquetes. Linguagens Artísticas permitiu que a gente trabalhasse muito com a arte, e isso me ajudou a entender que eu quero algo mais ligado à arquitetura.  Adoro decoração, construção, desenhar, mas também me dou muito bem com matemática – relata a aluna.

 

As aulas de Projeto de Vida – disciplina nova e obrigatória a todos os estudantes – também ajudaram Lucas nesse processo.  No Santa Inês, a matéria é ministrada por um professor e tem também o apoio de um psicólogo.  Camila Espíndola considera que a forma como a turma recebe essa disciplina depende muito da forma como ela é aplicada.

— Lembro que, no 1º ano, eu tinha ainda dificuldade de saber se era Direito mesmo o que eu queria, então toda vez que eu tinha que responder sobre isso, eu tremia um pouco.  Mas a escola sempre teve muito respeito com a gente e com o nosso tempo, então depende muito da pessoa e do ambiente – avalia a adolescente.

 

Conforme Camila Fraga Gonçalves, num primeiro momento, os professores tiveram mais dificuldade para desenvolver os itinerários, que aplicavam na prática conceitos e habilidades vistos de forma teórica nas disciplinas básicas.  Mas, depois, foram se adaptando.

— Vejo muitos saindo da sua área de conforto.  Tem assuntos que a gente trabalha na Física, por exemplo, que eles conseguem trazer para algo bem mais palpável, como montar uma lâmpada, mexer com robótica.  Eles conseguem conciliar bem, atualmente – comenta a jovem.

 

Entre tantas diferenças de percepção dos alunos de escolas privadas e dos de públicas, uma semelhança é a insegurança com o Enem.  Estudante do 3º ano, Lucas espera ser aprovado já na edição de 2023, quando ainda terá o formato antigo.  Em 2024, o modelo da prova ainda está indefinido, diante da suspensão do cronograma de implementação pelo MEC.

— O novo Enem é uma coisa que preocupa bastante, porque a gente não sabe como vai ser.  Estou focando em passar no Enem de agora, mas imagino que a gente vá estar preparado para outro, porque não faz sentido construir toda uma trajetória nova se ela vai tornar as coisas mais difíceis para nós – pondera o adolescente.

 

Camila Espíndola concorda que o fato de estar em uma escola particular, e uma que implementou o Novo Ensino Médio mais cedo, lhe ajuda a sair na frente no Enem.

— Dá um nervosismo ter que fazer algo diferente, mas acho que, para mim, vai ser mais fácil. O que é mais difícil é para os outros colégios, que não têm a mesma estrutura – comenta a jovem.

 

O motivo que levou o Santa Inês a adotar o Novo Ensino Médio já em 2021 foi o calendário inicial estipulado pelo MEC, que estabelecia essa como a data de implementação.  Com a pandemia, o calendário foi flexibilizado, mas, como a instituição de ensino já estava adiantada em seu trabalho interno, manteve a previsão.

— Fizemos uma discussão muito aprofundada com os professores, para que a proposta também fizesse sentido para eles.  Isso é muito sério, porque estamos falando da formação de sujeitos, que impacta diretamente na comunidade.  Em 5 de dezembro de 2020 batemos o martelo e foi bem emocionante – lembra Fabiana Pires, coordenadora pedagógica do Ensino Médio do Santa Inês.

 

O grande desafio foi diferenciar a base diversificada – como são chamados os itinerários dentro da escola – e a base comum.

— Não posso chamar de "mais Matemática", "mais redação", "mais Química", se é um espaço diferenciado.  Então, eu tenho que organizar o currículo de um jeito lógico.  Vai ser um aprofundamento? Um itinerário interdisciplinar?  Se sim, com qual objetivo? Seguimos observando e fazendo ajustes – descreve Fabiana.

 

O perfil e a formação dos professores, de acordo com a diretora da instituição, irmã Celassi Dalpiaz, precisou passar por transformações.

— É desafiador ter um professor apto para poder transitar em todas as áreas de conhecimento.  A proposta é muito boa, porém, entre a proposta e o que a gente vive hoje, com professores que foram trabalhados e formados em um modelo, há um distanciamento grande.  Se a gente conseguir um alinhamento de propósito, todo mundo ganha – ressalta a diretora.

 

Aos poucos, no entanto, a convicção da diretora é de que o formato do Novo Ensino Médio trará benefícios, aliando a preparação técnica com a preparação emocional dos alunos para o seu futuro.

 

Fonte: Zero Hora/Caderno DOC/Isabella Sander [isabella.sander@zerohora.com.br] em 09/04/2023