Translate this Page




ONLINE
4





Partilhe esta Página

                                            

            

 

 


Educação Musical com Projeto Orquestra Villa-Lobos
Educação Musical com Projeto Orquestra Villa-Lobos

LIÇÕES DE MÚSICA QUE SE MULTIPLICAM

 

Aluna da Orquestra Villa-Lobos comanda projeto de educação musical em que repassa a crianças e jovens pobres o que aprendeu em iniciativa na Lomba do Pinheiro.

 

Para muita gente, canções costumam embalar momentos. Para Eriadny Borba, 22 anos, a música serviu de empurrão. Em pouco mais de uma década, impulsionou a moradora da Vila Mapa de aluna de um projeto social a multi-instrumentista, educadora musical e fundadora de outro projeto voltado ao ensino gratuito de música em Porto Alegre.

 

Se a música foi determinante na construção da personalidade e da trajetória profissional de Eriadny, a relação com notas, instrumentos e melodias hoje ocupa parte central de sua rotina e teve diferentes significados ao longo dos últimos 13 anos. O primeiro deles estava mais para castigo. Obrigada pela mãe, a garota, segunda de cinco irmãos, começou, aos oito anos, a cantar no coral da Escola Municipal Villa-Lobos, onde estudava, na Lomba do Pinheiro. Aos nove, deu início às aulas de flauta doce no projeto da Orquestra Villa-Lobos, que possibilita o aprendizado gratuito de diversos instrumentos.

- Minha mãe trabalhava muito. Então, colocou a gente em tudo o que tinha no contraturno da escola, para a gente não ficar na rua. No começo, eu não gostava – lembra a educadora musical.

 

Somente depois de algum tempo como estudante de flauta, amenina passou a se interessar de fato pelas aulas. Isso após ver uma apresentação da Orquestra Villa-Lobos, um dos projetos sociais mais bem-sucedidos de Porto Alegre. Naquele momento, o que era obrigação ganhou novos contornos e a música virou um leque de possibilidades. Aprender coisas novas, ser reconhecida e conhecer lugares fora da comunidade onde nasceu, cresceu e vive eram algumas delas.

 

Em seu terceiro ano de flauta, Eriadny resolveu aprender novos instrumentos. No mesmo projeto, começou a tocar violoncelo. Mais tarde, aprenderia violão e cavaquinho. O entusiasmo da guria era tamanho que seu nome começou a dominar as listas de reservas de salas de aula para estudo.

- Desde pequena, os olhos dela brilhavam mais do que os da maioria. Isso é um alerta do vínculo com a música. A Eriadny seguiu no estudo, aprimorou-se, foi se interessando em acompanhar as aulas dos pequenos e a ajudar – lembra Cecília Rheingantz Silveira, coordenadora e regente da Orquestra Villa-Lobos.

 

 

NOS PLANOS, CURSAR UMA FACULDADE

 

Aos 16 anos, a ajuda voluntária mudou de status: Eriadny foi convidada a trabalhar como monitora no projeto que a formou. O trabalho marcou o começo de uma nova relação com a música, que passou a ser, também, seu trabalho.

 

A evolução de aluna a monitora mostrou-se providencial na vida da moradora da Vila Mapa. Grávida aos 17 anos, contou com o trabalho para garantir a criação da filha Késya, hoje com cinco anos. Desde então, a música tem sido o principal instrumento para concretizar alguns sonhos: viajando com a orquestra. Já extrapolou muito os limites da comunidade, conhecendo lugares como Brasília, Salvador, São Paulo, Paraíba, Santa Catarina, e países vizinhos, como Argentina e Uruguai. Recentemente, Eriadny levou a filha a uma apresentação no Rio de Janeiro.

 

O esforço da mãe da instrumentista em manter os filhos ocupados com as atividades musicais envolveu a família. Todos os cinco filhos escolheram um ou mais instrumentos para se dedicar – o que por vezes resulta em encontros embalados pelos irmãos.

 

Além de Eriadny, Handyer Borba, 20 anos, resolveu viver exclusivamente da arte: ingressou no curso de Música Popular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde aprimora seus conhecimentos no piano. A mais velha quer seguir os passos do irmão mais novo: no meio do ano, tentará o ingresso na faculdade de Música do Centro Universitário Metodista IPA.

- A música mudou a minha vida. As oportunidades que a gente tem, de viajar para tudo quanto é canto, de tocar em vários lugares… Se eu não tivesse isso, nem saberia o que fazer – conta.

 

PROJETO CHEGOU AO “CRIANÇA ESPERANÇA”

 

Enquanto acumula aprendizado, Eriadny aproveita para multiplicar sua experiência com a música. Em 2016, começou a dar aulas de iniciação musical na Pequena Casa da Criança, na Vila Maria da Conceição. O projeto, que iniciou restrito a aulas de flauta, foi contemplado na última edição do Criança Esperança para ser ampliado. Até o fim do ano, deverá contar com uma orquestra nos mesmos moldes daquela onde Eriadny iniciou sua formação musical.

- Quando surgiu a ideia, nos disseram para conversar com ela. Vimos que a Eriadny era a cara do projeto, tanto é que ela entrou aqui e nunca mais saiu. Foi fundamental para estruturamos tudo, porque ela vive isso: sabe das necessidades, da quantidade de instrumentos, da estrutura – conta Catarina Machado, coordenadora de projetos da instituição.

 

Foram abertas 160 vagas para aula de flauta doce, violino, viola clássica, violoncelo e instrumentos de percussão – as aulas são abertas à comunidade. A verba recebida pelo Criança Esperança serviu para comprar os primeiros instrumentos e pagar professores – além de Eriadny, outros dois foram contratados.

 

Em jornada dupla – segue como monitora na Orquestra Villa-Lobos – a educadora musical assumiu, além das turmas de flauta, os alunos de violoncelo. Também é a responsável por ensaiar com o grupo de apresentação que comemora um período bem-sucedido: no ano passado, foram mais de 20 espetáculos fora da escola.

- Isso aqui é a história da minha vida, né? Quando comecei, era bem assim. Eu gostava muito, queria aprender, acompanhava todas as aulas. Quando vi, já estava ajudando crianças a tocar. Agora já iniciei duas turmas sozinha – orgulha-se.

 

TODA AJUDA É BEM-VINDA

 

O projeto da Pequena Casa conta com um patrocinador externo que auxiliou na melhoria em uma das salas de estudo, com os uniformes do grupo de apresentação e com o transporte para eventos fora da escola. Apesar disso, falta muito para que o espaço esteja adequado às atividades. Um projeto aprovado no Funcriança prevê a liberação de cerca de R$ 400 mil para que sejam construídas duas salas de estudos – que se transformaram em auditório – e um depósito para os instrumentos, atualmente acomodados em salas, nem sempre em boas condições.

- Hoje, as aulas são em salas dispersas. Estamos prevendo duas salas adequadas destinadas só para o projeto que vão virar auditório para as apresentações. Mas precisamos de ajuda. A gente sabe que ainda é um sonho, mas, quem sabe, disso tudo, um dia vai nascer a escola de música da Pequena Casa – diz Catarina.

  

Fonte: Zero Hora/Cidadania/Bruna vargas (bruna.vargas@zerohora.com.br) em 25/03/2018