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Chinês Ai Wei Wei: Fronteiras do Pensamento 2018
Chinês Ai Wei Wei: Fronteiras do Pensamento 2018

ARTISTA RESSALTA O SEU AMOR PELO TEXTO

 

O artista plástico e ativista político chinês Ai Wei Wei falou esta semana no Fronteiras do Pensamento.

 

O convidado da série de palestras “Fronteiras do Pensamento” da última segunda-feira (08/10) foi o artista plástico e ativista político Ai Wei Wei. O artista prepara uma exposição a ser aberta na Oca, parque Ibirapuera de São Paulo, e dividiu o palco do Salão de Atos da UFRGS com o curador da mostra, Marcelo Dantas.

 

Além das questões que já são públicas sobre o artista, como o fato de ter sido preso pelo governo chinês por ser crítico ao regime, ser polêmico e irreverente e um ativista pela liberdade de pensamento e de expressão, Ai Wei Wei falou um pouco mais sobre si e sobre seu trabalho.

 

Ele conta que para realizar a exposição que vai inaugurar no dia 20 de outubro em São Paulo, trouxe parte de sua equipe para o Brasil. Todos ficam encantados com a natureza exuberante e com a luminosidade do país. Ele viajou a várias regiões do país para criar obras especialmente para esta ostra. E se “apaixonou” por um pequi em uma reserva florestal. “Desde que meu pai viajou para a América Latina nos anos 50, tenho o sonho de encontrar uma árvore antiga no Brasil”, ele recorda. Resultado: a árvore foi o elemento para um molde que irá se tornar uma futura escultura. O vegetal foi moldado tridimensionalmente, sem que fosse prejudicada, e se transformará em uma obra a ficar pronta futuramente. A montagem deve ser feita por meio de encaixes. “O processo de produção é transformador”, revelou sobre sua viagem a diferentes lugares do país, que vai resultar no Projeto Raiz. Esculturas como ex-votos, populares no interior do Brasil, ganharam novos formatos e significações, a serem vistas na exposição que estará na Oca.

 

Alguns membros de sua equipe sugeriram: por que não montamos nosso estúdio no Brasil? Ai Wei Wei responde que já tem um estúdio montado na Alemanha, onde mora. “A Alemanha me deu um emprego. Sou professor. E cada obra que eu vendo é revertida para novos trabalhos”, explica. O fato de ser um imigrante na Alemanha é um dos motivos que o sensibilizam para a questão mundial dos imigrantes que fogem de guerras, fome ou outras razões e tentam a vida em outros países. “Aprendi muito cedo o que é não ter casa”, explicou. Seu pai, o poeta Ai Qing, foi um dos primeiros intelectuais a serem cerceados politicamente. Ele e a família foram enviados para um campo de trabalhos forçados e “reeducação” na China, onde não havia quase nada. “Aprendi sobre construção na prática, quando fizemos nossa casa, com ensinamentos básicos dos que viviam ali”, relatou o artista que, entre suas multifacetas profissionais está a de arquiteto.

 

Após viver parte da juventude nos EUA, retornou à China em 1993 para rever o pai, que estava doente, e começou a trabalhar com arte clandestinamente até se tornar mais conhecido por sua luta pela liberdade de expressão. Suas críticas ao governo chinês são várias, mas especialmente à falta de comunicação. Certo dia, chegaram em frente a seu estúdio de arte com máquinas e, sem aviso prévio, destruíram tudo. “Se você pergunta por que, eles nunca vão te responder”, lamentou, indicando o silêncio como uma das formas de opressão. “As pessoas que nasceram após a revolução não sabem o que é votar. Não se pode discutir problemas, não há avaliação de processos”, criticou. Além disso, ele conta que o uso da internet na China é restrito. “Não há acesso a redes sociais comuns no Ocidente, como o Facebook”, contou.

 

Pela visibilidade mundial que ganhou, o artista é consciente de sua responsabilidade. “Quero lutar pela liberdade não apenas na China, mas em qualquer lugar”, afirmou. “Eu também fui refugiado. Eu nunca tive essa sensação de casa. Foi por isso que eu acabei me envolvendo mais na questão dos direitos humanos, da liberdade de expressão. Para defender as pessoas que não tem voz”, explicou. Um de seus projetos mais recentes aborda a crise de refugiados em 23 países, tema de seu filme HUMAN FLOW – Não Existe Lar Se Não Há para Onde Ir”, de 2017. Além deste documentário, em que é acompanhado por uma câmera para conhecer como vivem os refugiados (além de ele próprio fazer vídeos com seu celular), o artista se dedica à escultura, à fotografia, e a performances e trabalhos coletivos. “Tenho usado todo o tipo de mídia e refletido sobre isso. De todas as mídias, acho que escrever é o mais eficiente, tem mais precisão”, opinou.

 

Ai Wei Wei escreve bastante. Chegava a escrever até três artigos por dia em seu blog na China, até ser censurado. “É preciso acreditar que há pessoas como você para se comunicar que se interessam pelos direitos humanos”,Entre as fotografias do artista que causaram polêmica se pode citar as que integram a série em que mostra o dedo médio (em um explícito “fuck you”) em frente a paisagens famosas de diferentes países, como a Casa Branca e a Torre Eiffel. Questionado para quem mostraria seu dedo atualmente, ele responde ser hesitar: “Colocaria o dedo para mim mesmo. Sou muito crítico comigo”, declarou.

 

EXPOSIÇÃO: MOSTRA DE WEI WEI NA OCA

 

Uma das obras de Ai Wei Wei que alertam para os fenômenos migratórios recentes é a instalação “Law of the Journey”, que faz referência aos barcos co anônimos que atravessam mares em jornadas em que nem todos chegam vivos. Esta é uma das obras do artista que deve integrar a exposição “Ai Wei Wei Raiz”, a primeira do artista plástico no país e também a maior já realizada por ele. Com projeto desenvolvido e curado por Marcello Dantas, a mostra chega para apresentar a história do artista por meio de seus mais icônicos trabalhos, além de obras inéditas nascidas de uma imersão profunda pelo Brasil e suas tradições. Está em cartaz a partir de 20 de outubro na Oca no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, onde permanecerá até 20 de janeiro de 2019.

 

Para produzir obras especialmente para este evento, o artista fez uma imersão pelo Brasil, que contou com a consultoria da designer Paula Dib. Ele entrou em contato com comunidades, artesãos e recursos regionais até então desconhecidos por ele, resultando em trabalhos inéditos, feitos com madeira, sementes, raízes tecidos e couro. Entre os destaques, está uma série de obras feitas com centenárias raízes do pequi-vinagreiro, espécie de árvore típica da Mata Atlântica baiana atualmente em risco de extinção. O contato com o alfabeto armorial, de Ariano Suassuna (inspirado nos ferros marcadores de gado), também lhe serviu de inspiração.

  

Fonte: Correio do Povo/CS Caderno de Sábado/Adriana Androvandi (aandrovandi@correiodopovo.com.br) em 13/10/2018